SOBRE

Do lat. valore, provenienete do verbo valere, gozar de boa saúde, passar bem, ser forte, ser corajoso. Em grego, axios, etimologicamente, aquilo que tem peso. Daí, aquilo que vale a pena, aquilo que é precioso, que é digno de ser estimado ou preferido. Aquilo que uma coisa vale. O desejável que é coletivamente partilhado no interior de uma determinada sociedade. Padrão utilizado pela consciência para avaliar uma ação, realizada ou a realizar. Aquilo que é bom, que é desejável, que tem mérito, que vale a pena. Todos aqueles fins que motivam a ação humana em variados domínios, da estética à religião, do direito à política.

Adam Smith foi o primeiro a usar a expressão valor, distinguindo entre o valor de uso e o valor de troca. Em termos económico, o valor é considerando como o preço que do ponto de vista normativo se julga dever ser pago por um objeto ou um serviço. Nestes termos, Marx chega a considerar que o valor de uma coisa equivale ao trabalho acumulado, porque as coisas valem o trabalho que custaram para serem produzidas. Foi da economia que a expressão passou para o mundo da moral e da filosofia, com destaque para o filósofo alemão Rudolf Hermann Lotze (1817-1881), na sua obra Mikrokosmos, 1856- 1864, quando distinguiu realidade, verdade e valores, mundos a que corresponderiam as conexões causais, as conexões de sentido e as conexões de fim. O modelo foi adotado por Heinrich Rickert e pela escola neo-kantiana de Baden. Também Nietzsche usa a expressão valor, considerando-a como equivalente ao conceito clássico de bem.

No plano politológico, segundo Clyde Kluekhon, os valores podem ser definidos como aquilo que é o desejável, partilhado em comum no interior de uma determinada coletividade social. Os valores são interiorizados pelo indivíduo no decurso do respetivo processo de socialização, contribuindo para a integração e a mobilização sociais. Com a sociedade moderna, face ao processo de divisão de trabalho e de conflitualização, o núcleo comum dos valores sociais foram reduzidos a um mínimo, contrariamente ao que sucedia nas sociedades tradicionais.

O movimento neo-kantiano da Escola de Baden, marcado pelo magistério de Heinrich Rickert gera a chamada filosofia dos valores e inspira a sociologia compreensiva de Max Weber. Surge, assim, um paradigma científico que, muitas vezes, se opõe aos que defendem uma ciência livre de valores (Wertfreiheit), na linha do utilitarismo.

Valores – Economia

O termo foi usado por Adam Smith quando quis distinguir a utilidade do preço, concebendo a primeira como o valor de uso (use-value) e o segundo como o valor de troca (exchange-value).

Valor de troca (exchange-value)

O mesmo que preço de uma coisa, segundo Adam Smith. Para Talcott Parsons, o poder político tem mais valor de troca do que valor de uso. Como a moeda, é uma simbolização da força física, assentando na troca baseada na confiança. Trata-se da apreciação social atribuída a uma coisa, num determinado momento e por um determinado grupo, apreciação essa que o grupo interpreta, oferecendo por esse bem um determinado preço.

Valor de uso (use-value)

O mesmo que utilidade de uma coisa, segundo Adam Smith. Quando uma coisa se mostra capaz de satisfazer uma determinada necessidade.

Valores (Rickert)

Desenvolvendo o método teleológico de construção dos conceitos, bem diverso do método das ciências matemático-naturais, dado que nestas o conhecer é apreender o geral, abstraindo do particular e do intuitivo, considera que este não pode ser o único método científico. Defende assim que a realidade deve ser encarada a partir de duas perspetivas. Pelo lado daquilo que na realidade se apresenta como geral, temos a natureza. Pelo lado daquilo que nela se nos apresenta como particular, temos a cultura. Se a conceitualização naturalista tem de ser mecânica – própria das ciências nomotéticas ou generalizantes –, já a conceitualização culturalista deve assumir-se como teleológica – própria das ciências do espírito, idiográficas ou individualizantes –, procurando estabelecer-se sempre a relação de cada fenómeno com um valor. Neste sentido, retoma o conceito kantiano de dedução transcendental, algo bem diverso da dedução lógica, daquela que procura fazer derivar um determinado efeito de uma determinada causa. Na primeira, pelo contrário, procura justificar-se uma pretensão pela sua condição. Porque se o efeito é uma consequência da causa, na dedução lógioca, eis que a condição comanda a possibilidade, na dedução transcendental. No pensamento de Rickert, os valores, apesar de serem um a priori teorético-cognitivo, não são considerados como puramente subjetivos nem como arbitrários. Os valores não estão para além da realidade, dado que penetram nela, atravessando-a, como a luz que passa através de certos corpos translúcidos. A cultura apresenta-se assim como uma região intermédia que vai da natureza para os valores, constituindo uma realidade referida a valores e não podendo confundir-se com a ideologia, que apenas manobra com elementos apriorísticos, subjetivos e arbitrários. Pelo contrário, a cultura, tratando dos valores ligados aos fenómenos, apenas os recolhe, não os inventa. Os valores, para a cultura, têm de ter um interesse geral, devendo ser reconhecidos e aceites pela comunidade. Aliás, os  valores é que permitem distinguir o essencial do acessório, chegar à individuação do fenómeno e dar significado e sentido ao objeto analisado, integrando-o no conjunto. A realidade empírica é assim transformada pela ciência através dos conceitos, torna-se histórica quando a consideramos nas relações com o individual e o particular e torna-se natureza quando a consideramos na sua relação com o geral. Deste modo, todo o fenómeno cultural, apesar de situado no tempo e no espaço, transforma-se num conjunto com uma estrutura horizontal (relações com o passado e o meio-ambiente) e uma estrutura vertical (nasce, cresce e morre). Os valores permitem assim uma construção teleológica de conceitos, pelo quer é possível reconstruir as ciências históricas e sociais através do método da referência a um valor (wertbeziehende Methode), isto é, pela construção de conceitos referida a valores, como forças culturais. Para Rickert os homens reconhecem determinados valores como valores e aspiram a produzir bens em que esses valores adiram. Deste modo, os valores não existem, valem (gelten), sem, no entanto, serem reais. São valores de verdade, morais, estéticos e religiosos. Conforme salienta Castanheira Neves, essas ideias, princípios e valores são pressupostos como objetividades, como algo independente das intenções meramente psicológicas do sujeito, como uma validade que reconhecemos impor-se-nos objetivamente. As teses de Rickert assumem assim a existência de uma relação objetiva entre o ser e o valor, entre a ontologia e a axiologia, ao contrário do que, depois, faz Max Weber, para quem a escolha dos valores é estabelecida pelo próprio pesquisador, subjetivamente, através de um individualismo metodológico.

CONTACTOS

Rua Almerindo Lessa
Pólo Universitário do Alto da Ajuda
1349-055 Lisboa
PORTUGAL
(ver google maps)

(+351) 21 361 94 30

geral@observatoriopolitico.pt

Politipédia © 2024